Reflexões num Shopping Center
Tenho uma gordura
que me salta à cintura
e me incomoda,
mas mesmo assim
consigo atrair certa atenção:
pudera! Ainda vinte e três anos,
nem velho nem novo,
de rosto bonito,
como dizem alguns...
...talvez por isso me olhem
certos transeuntes,
enquanto observo a vida sentado,
tomando mate.
Ainda pouco estava na livraria
folheando livros,
procurando palavras,
namorando as belas edições
que fizeram de Guimarães Rosa...
Custa dinheiro isso de atribuir
a algo o maior grau de perfeição.
Mas enfim, as palavras são as mesmas
e é o mesmo Guimarães quem as escreve.
E me contento em folhear em mãos
o denso volume.
Sou outro agora que tenho o mínimo
conhecimento sintático:
analiso, verbalizo e
emoção talvez não sobre...
apenas me impressiono
com a simplicidade da produção de
hipérbatos inconscientes,
metáforas intrínsecas,
diéreses, sinéreses...
Ao meu lado existe uma prateleira
que comporta diversos tomos religiosos.
Noto que as pessoas se interessam pelo
espiritismo,
mas se perguntarem algum tipo de definição,
provavelmente narrarão o espectral,
translúcido e inquieto
e jurarão de pés juntos
que nunca viram
mas que o mundo está cheio...
eu não acredito,
nem desacredito,
sou senhor de verdade nenhuma,
e que me faz exceler dos outros
saber nomear aquilo que eles sentem?
Morreremos todos, sem exceção,
com nossas supostas verdades
até que inventem o tão sonhado
elixir da vida
que provavelmente
não existe...
A mulher é gorda,
o filho é feio e gordo também,
puxa com cautela
a roupa que sobe
e deixa à mostra a cintura:
tão antes a mencionada!
Por algum momento contemplo
situação pior do que a minha
e constato que nada há de pior
que o contentamento
comparativo...
que me salta à cintura
e me incomoda,
mas mesmo assim
consigo atrair certa atenção:
pudera! Ainda vinte e três anos,
nem velho nem novo,
de rosto bonito,
como dizem alguns...
...talvez por isso me olhem
certos transeuntes,
enquanto observo a vida sentado,
tomando mate.
Ainda pouco estava na livraria
folheando livros,
procurando palavras,
namorando as belas edições
que fizeram de Guimarães Rosa...
Custa dinheiro isso de atribuir
a algo o maior grau de perfeição.
Mas enfim, as palavras são as mesmas
e é o mesmo Guimarães quem as escreve.
E me contento em folhear em mãos
o denso volume.
Sou outro agora que tenho o mínimo
conhecimento sintático:
analiso, verbalizo e
emoção talvez não sobre...
apenas me impressiono
com a simplicidade da produção de
hipérbatos inconscientes,
metáforas intrínsecas,
diéreses, sinéreses...
Ao meu lado existe uma prateleira
que comporta diversos tomos religiosos.
Noto que as pessoas se interessam pelo
espiritismo,
mas se perguntarem algum tipo de definição,
provavelmente narrarão o espectral,
translúcido e inquieto
e jurarão de pés juntos
que nunca viram
mas que o mundo está cheio...
eu não acredito,
nem desacredito,
sou senhor de verdade nenhuma,
e que me faz exceler dos outros
saber nomear aquilo que eles sentem?
Morreremos todos, sem exceção,
com nossas supostas verdades
até que inventem o tão sonhado
elixir da vida
que provavelmente
não existe...
A mulher é gorda,
o filho é feio e gordo também,
puxa com cautela
a roupa que sobe
e deixa à mostra a cintura:
tão antes a mencionada!
Por algum momento contemplo
situação pior do que a minha
e constato que nada há de pior
que o contentamento
comparativo...
3 Comments:
sem comentários, marcelo...
é como eu sempre digo, os melhores textos surgem assim, por causa de uma situação aparentemente trivial, que, por ação do acaso (ou não) nos põe a pensar em coisas bem maiores, e, às vezes, escrever grandes reflexões...
o caso desse teu poema fodíssimo =)
parabéns cara!
Passando para te desejar um ótimo domingo. Bjs.
O Guto falou muito do que eu falaria.
Só uma coisa: tu fez o poema no shopping enquanto as pessoas passaram? Ou teve que martelar algo depois em casa? (Ou os dois?)
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